domingo, 18 de julho de 2010
Quebra-cabeças
Deixar as coisas para depois é sempre um erro. Depois eu arrumo isso, depois eu limpo aquilo. Depois eu ligo para ele, depois eu compro o presente, depois eu leio, depois eu escrevo. E com tantos "depois", a nossa vida fica como? Fica para depois?!
Pois nas duas últimas semanas eu me deixei para depois. E tenho a sensação de que venho fazendo isso com frequência. Hoje sinto uma urgência em viver tudo aquilo que deixei para depois que chego a desanimar só em pensar.
Alguns fatos relevantes aconteceram neste tempo que estive em silêncio - silêncio é para a fala, mas como se denomina o silêncio para a escrita? - e eu gostaria de ter escrito sobre todos. Mas agora minha mente está tão confusa que receio começar a escrever sobre um fato e terminar falando em outro. Então falarei sobre confusão.
Tenho uma mente confusa por natureza. Há poucas pessoas que julgo me entenderem. Poucos desses poucos realmente me entendem. Não raras vezes imponho minha confusão a alguém, na esperança de que esse alguém compreenderá e partilhará minha alucinação momentânea. Não raras vezes fico sem resposta. Mas prefiro o vácuo do limbo ao limbo da solidão.
Quando me intitulo "confusa" não é no sentido de não saber o que quero, ou para onde vou, ou quem sou. Não, por favor, não me confunda com um adolescente de 14 anos. Minha confusão é de sensações, percepções, observações. Eu sei o que quero, sei do que preciso. E hoje, um domingo frio, chuvoso e preguiçoso, preciso de um chá. Preciso de um livro, preciso de um momento só. Mas o que eu preciso hoje não é o que eu quero. Eu quero o dia de sol, quero a energia do açaí, quero o movimento das ondas do mar. Não quero um momento só, mas um momento a sós. Eis o que me confunde: o que eu preciso é o contraste do que eu quero.
Tenho centenas de idéias e tenho a necessidade expô-las, mas preciso organizá-las antes de desnudá-las, ou corro o risco da superficialidade, da repetitividade. Assim como tenho uma porção de percepções, observações, opiniões sobre as quais só posso discorrer quando me questionarem, ou acabarei rotulada de inconveniente.
E nessa linha, nada me descreveria melhor do que o belíssimo texto de Fernando Pessoa: "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens".
Mas, como há o contraste das confusões, isso é o que eu quero. Mas o que eu preciso é de algum terráqueo interessado nesta confusão.
Ouço pessoas falarem que a confusão do dia-a-dia nos obriga a postergar aquele telefonema, aquele passeio, aquela decisão. Eu digo que a confusão (não só aquela diária) nos faz postergar a nossa própria existência. E nada é mais desanimador do que isso. Hoje, mais do que nunca, reconheço o valor da organização. Ser organizado é a chave para a felicidade. Duvida? Uma pessoa organizada é capaz de reservar espaços em sua agenda para coisas tão importantes quanto uma reunião de negócios, como por exemplo, reunião com os amigos. Consegue reservar alguns minutos de seu dia para dar atenção a si e aos que julga merecedores do que ela tem de mais precioso: tempo e atenção. Bom, isso é um outro assunto, e desenvolvê-lo deixaria este texto mais confuso do que já o é.
Concluo que querer é preciso. Mas é preciso organizar o que se precisa para querer o que se quer. Confundi? Desculpe...
Em tempo:
"Minha alucinação é suportar o dia-a-dia, meu delírio é a experiência com as coisas reais. Me interessa mais." Belchior
Em tempo 2:
Fernanda R., muito obrigada pelas palavras de incentivo. Adorei saber que minhas palavras estão transpondo paredes...
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Querida! Muito bom passar aqui!!!!
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