
Eu queria dizer: desculpe por ontem. Desculpe se eu falei coisas que não
deveria dizer, em um momento que não deveria ser, em um lugar que não
deveria estar. Mas é que eu sou assim mesmo, meio inconveniente.
Inconvenientemente transparente, passional, sincera. "Sincera como não
se pode ser". Mas eu só sou assim por que eu sinto. Sinto demais. Mais
do que gostaria. Mas sentimento não é algo que se controle. No máximo,
podemos sufocá-lo, reprimí-lo. E quando a gente reprime um sentimento
ele toma mais força. E ele explode. Como aconteceu ontem. E olha, que
foi uma explosão "meio controlada", porque eu juro que tentei controlar a
explosão, já que o sentimento ficou totalmente fora de controle.
Sim, fora de controle. E fora de compreensão. Eu sei o que eu sinto. Eu
sei o que eu quero. Eu sei o que você [diz que] sente. Só não sei por
que eu continuo agindo como se não soubesse. Ou pior, agindo como se,
"explodindo", algo fosse mudar. Eu sei que não vai. Mas é melhor se
arrepender do que se fez, do que daquilo que não se fez. Mas ficar em
silêncio também é fazer alguma coisa. E talvez eu me arrependa de não
ter ficado em silêncio.
Talvez.
Talvez eu nem ame você como eu acho que amo. Talvez você me
ame mais do que imagina. Talvez você nem pense nisso. Eu acho que você
não pensa mais nisso. A vida é tão cheia de coisas e pessoas que nos
encantam, seja por um breve momento, seja pelo resto da vida.
Mas o que me faz escrever isso não é só por que quero pedir desculpas
pelo que disse ontem. É também pelo que eu deixei de dizer ontem. É que
eu sou melhor escrevendo do que falando. Você sabe que sou daquelas que
chora enquanto fala, e que odeia chorar enquanto fala. E por conta disso chora ainda mais. Não que eu não
chore enquanto escrevo - às vezes acontece - mas é que assim não estou
sob a influência do seu olhar. Ah sim, o seu olhar.. os seus olhares..
isso era uma coisa sobre a qual eu queria falar com você.. mas em um
outro momento. Por hora, basta dizer que quando você me olha é como se me hipnotizasse.
Eu gostaria mesmo de dizer é que sim, ainda amo você. Contraditório?
Sim, é contraditório. Eu que comecei esta confusão, mas ela é
necessária. Necessária por que, apesar de amá-lo (ou achar que amo), o
jeito que você me ama (ou amava) não é o suficiente. Você é quase tudo o
que eu queria, mas esse quase é importante pra mim. E esse quase é
demais pra você. Sim, eu sou mimada, quero tudo do meu jeito: quero não
só o príncipe, mas sua nobreza também. Sim, você é egoísta e só quer
aquilo que você pode receber. Doar-se não faz parte das suas
capacidades. Você está "Curtindo a Vida Adoidado". Eu quero "Alguém para
Dividir os Sonhos". Eu me ofereci para acompanhá-lo em todas as
curtições dessa vida doida. Você não quis compartilhar sonhos. E assim, mais
um romance não passa de um roteiro de um filme inacabado.
Tá, eu sei. Isso acontece o tempo todo. As pessoas se recuperam e seguem
em frente. Mas quando eu tento seguir, duas frases não saem da minha
mente: "Eu posso até olhar pro lado, mas é por você que eu fecho os
olhos", e "procuro evitar comparações entre flores e declarações, eu
tento te esquecer.. a minha vida continua, mas é certo que eu seria
sempre sua..".
Flores. Engraçado é a gente querer tanto uma coisa que, quando ela
acontece, nem sempre tem o efeito esperado. Eu sempre quis receber
flores (um príncipe que se preze manda flores - fato), mas quando eu
recebi flores pela primeira vez, abri o cartão com as mãos trêmulas e li o
nome do remetente antes da mensagem, e vi que eram de um amigo de
infância. Depois de algumas discussões e de uma medida bem drástica eu
consegui as tais flores do meu [idealizado] príncipe: e o gesto me
pareceu tão mecânico que me fez sentir uma frieza metálica. Depois disso
vieram outras flores, de um pobre sapo, que sonhava em ser príncipe,
que tentou muito ser príncipe, mas escolheu a princesa errada. Eu não
gosto de sapos. Não quero sapos.
Não quero sapos, mas também não quero um quase-príncipe. Sei que eu não sou uma princesa muito
exemplar... mas basta ter vontade. Eu só queria que você tivesse vontade.
Vontade de fazer parte de mim como eu tento (tentei) ser parte de você.
Por quê?
Porque eu amo [quase] tudo em você: seu jeito
carinhoso, suas piadas sem graça, sua mania de implicar comigo só pra me
ver irritada e depois me abraçar fazendo tudo transformar-se numa boa
gargalhada. O seu abraço.. definitivamente é o melhor do mundo! E quando
ele se torna o NOSSO abraço é como se nada mais existisse. Tá, isso é
meio clichê, mas e daí? Clichês nada mais são do que fórmulas de
sucesso.
Odeio quando você se irrita muito por coisas bobas mas admiro
como tudo passa num piscar de olhos. Odeio sua falta de qualquer
vestígio de ciúmes, mas amo a total ausência de cobranças vãs...Odeio
quando você se atrasa, me deixa buzinando na frente de casa, mesmo
sabendo que odeio me atrasar, mas amo quando você lembra de pegar
anúncios de lojas que eu gosto de
olhar e assiste comigo, pacientemente, vários episódios de seriados
consecutivamente.
Também pelo óbvio: porque combinamos em tudo, em
gostos, em pensamentos, em toques, em sorrisos, em olhares que dispensam
palavras. E em fotos também, por que não? Somos ainda mais lindos
quando estamos juntos. Mas isso tudo você JÁ sabe. E o que é que você NÃO sabe?
Você não sabe que eu torço por você pra valer, que eu vibro
com cada conquista sua, que eu fico triste quando algo não sai como
você planejava, que eu sofro junto com você pelos seus anseios e
angústias. E você não sabe que dói perceber que quando o anseio, a
angústia, a tristeza ou a perda é minha, ela é só minha. Dói perceber
sua falta de interesse e ver que você não tenta participar das minhas
alegrias, das minhas realizações, dos meus sonhos. Ninguém precisa ter os mesmos
sonhos e desejos que ninguém, mas interesse é fundamental. Alegria
compartilhada é alegria multiplicada. Dor compartilhada é dor dividida,
diluída.
O que você não sabe é que eu sofro por estar longe, mas sofro
mais ainda quando percebo que estar perto não significa estar próximo. E
estar próximo é uma coisa difícil de conseguir.
Ser príncipe
não basta. Mas bastaria ter vontade. Bastaria fazer acontecer. Bastaria
compartilhar, aproximar, procurar. Bastaria interessar-se,
comprometer-se, doar-se. Isso é amar. E amar basta. Perecebeu que tudo
se resume em verbos? E lembra que verbos indicam ação? E que quem
pratica a ação é o sujeito? Se a ordem direta é
Sujeito+Verbo+Complemento, qual o seu papel?
" Um telefonema [também] bastaria.. passaria a limpo a vida inteira.."
Mas agora, quer saber do que EU SEI?
Eu
sei que você não quer ser nem príncipe, nem sapo. Sei que você já
deixou de se importar. Por que se importar? Afinal, tudo sempre se
resolve.. milagrosamente... será milagre mesmo?
Sei que há muito
tempo não trago para você a leveza de viver. Trago sempre o pesado fardo
do pensamento e do questionamento da vida adulta. E sei que você nunca
se perguntou o porquê disso. Passou alguma vez pela sua cabeça que
enquanto você brincava de voar, eu segurava as cordas que o mantinham no
alto? Eu sei que não.. Também sei que eu aguentei o que eu pude. Eu
tentei o que eu pude. Eu amei o que eu pude. Mas amor incondicional só
existe de mãe/pai pra filho. O meu amor tem condições. E a condição
principal é o retorno. E é isso que ofereço a você de agora em diante:
retorno. Retornarei para você tudo o que você me oferecer. Sem nenhum
extra, nenhuma amostra grátis. Porque você sabe, assim como eu sei, que
nós somos capazes de muito mais. Seja o que for, bom ou ruim, nosso
potencial é altíssimo.
"O que você não quer, eu não quero
insistir". E não vou insistir. Isso dói, pois o meu ímpeto é sempre ir
atrás do que eu quero e é triste admitir que eu cansei de lutar sozinha.
Siga inerte, deixando a onda do momento guiar a sua
direção. Isso parece perfeito pra você. Mas não é pra mim. O que eu vou
fazer agora? Vou silenciar e descansar. E esperar que alguém segure as
minhas cordas para eu poder voar um pouquinho...